Descoberta de microplásticos na placenta e cordão umbilical de gestantes no Brasil
27 de julho de 2025 / 21:36
Foto: Divulgação

Cientistas brasileiros realizaram uma descoberta alarmante ao detectar, pela primeira vez na América Latina, a presença de microplásticos na placenta e no cordão umbilical de mulheres grávidas. A pesquisa foi conduzida por especialistas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que analisaram gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Alagoas.

Os microplásticos são partículas diminutas de plástico, frequentemente invisíveis a olho nu, que podem ser transportadas pelo vento e estão presentes em diversos produtos do cotidiano, como cremes dentais, cosméticos, alimentos e até mesmo na água. Embora ainda não existam estudos definitivos sobre os impactos desses microplásticos na saúde humana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para os potenciais riscos associados a esses materiais.

O coordenador da pesquisa, Alexandre Borbely, em entrevista, ressaltou que ainda estão sendo avaliados os riscos potenciais. Alguns países já estão investigando os efeitos do contato fetal com microplásticos. “Ainda não temos como saber. O que podemos afirmar é que as gestantes estão expostas a microplásticos e que essas partículas podem ser transferidas para o feto durante a gestação. Em estudos laboratoriais com modelos animais ou células, já observamos alguns efeitos, mas precisamos expandir as investigações com a população para confirmar o que realmente está ocorrendo. Um estudo recente nos EUA indicou uma correlação entre certos plásticos e partos prematuros”, explicou.

Durante a pesquisa, foram coletadas e analisadas amostras de 10 gestantes, todas apresentando contaminação por microplásticos. Para identificar os componentes, os pesquisadores utilizaram a técnica de espectroscopia Micro-Raman, que permite uma análise química precisa das moléculas. “Utilizamos a micro espectroscopia Raman para caracterizar os microplásticos, uma técnica altamente sensível que fornece a assinatura química das amostras, semelhante a uma impressão digital única. Nosso estudo é o primeiro a identificar microplásticos em gestantes na América Latina e o segundo no mundo a detectá-los no cordão umbilical”, afirmou Borbely.

Na análise, foram encontradas 119 partículas de microplásticos nos cordões umbilicais e 110 nas amostras de placenta. O polietileno, um dos plásticos mais comuns e baratos, foi o composto mais frequentemente encontrado, presente em uma variedade de embalagens e brinquedos.

Borbely destacou que a placenta parece não estar impedindo a passagem dos microplásticos, sugerindo que a contaminação observada no final da gestação reflete a exposição ao longo dos nove meses. “Acreditamos que durante a gestação há uma transferência contínua para o feto, embora ainda não possamos quantificar isso. Estudos em animais já indicaram essa possibilidade”, afirmou.

Com esses resultados, os pesquisadores planejam expandir o projeto para investigar se existe alguma relação entre a quantidade ou o tipo de microplástico e alterações gestacionais e fetais. “Estamos publicando estudos com células em laboratório para entender os efeitos dos microplásticos na gestação. A Ufal acaba de aprovar a criação de um centro de excelência em pesquisa sobre microplásticos, o que nos permitirá avançar na qualidade e na rapidez de nossos estudos.”