
A construção de arranha-céus em Fortaleza tem se intensificado, refletindo uma nova tendência na capital cearense. O primeiro “superprédio” da cidade, o One Residencial, foi entregue recentemente no bairro Mucuripe, com 50 andares e 170 metros de altura, oferecendo uma vista panorâmica que abrange a famosa avenida Beira Mar e outras áreas como a Praia do Futuro e o Estádio Castelão. Atualmente, um novo empreendimento semelhante está em construção ao lado.
Essa ascensão dos grandes edifícios suscita discussões sobre a infraestrutura urbana, os impactos ambientais e o desenvolvimento da cidade. Maria Liliane, uma enfermeira paulista que se mudou recentemente para Fortaleza, expressou sua satisfação com os novos projetos: “Acredito que Fortaleza está se destacando com esses desenvolvimentos, atraindo turistas e novos moradores”. Por outro lado, Paulo Victor Nobre, um empresário local, elogiou a estética dos novos prédios, afirmando que eles embelezam a cidade.
Entretanto, nem todos compartilham dessa visão otimista. A aposentada Kátia Reis levantou preocupações sobre o impacto turístico, afirmando: “A partir do momento que você tira os hotéis para colocar prédios residenciais, você acaba limitando a experiência dos turistas”. Telma Rodrigues, uma turista de Goiás, comentou sobre a dualidade da situação, reconhecendo que, embora os novos edifícios possam atrair mais pessoas, eles também contribuem para a poluição visual.
O debate sobre as mega construções é um dos focos do novo Plano Diretor Participativo e Sustentável de Fortaleza (PDPS), que está em processo de elaboração. O plano atual, datado de 2009, deveria ter sido atualizado em 2019, mas a discussão foi retomada apenas em 2025, com a expectativa de votação na Câmara Municipal ainda este ano.
O novo plano propõe que a altura máxima dos edifícios varie conforme a zona em que estão localizados. Por exemplo:
As definições de zoneamento consideram a capacidade de suporte do território, infraestrutura de saneamento e mobilidade, além dos impactos ao meio ambiente e à vizinhança. Artur Bruno, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Fortaleza (Ipplan), destacou que a construção de “superprédios” deve ser cuidadosamente autorizada, levando em conta as condições climáticas e a infraestrutura disponível.
O novo Plano Diretor também prevê mecanismos que permitem a flexibilização das alturas máximas, através das chamadas “outorgas onerosas”, que permitem construções acima do limite mediante pagamento ao município. Essa arrecadação será direcionada para o Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano (FUNDURB), que financia ações de infraestrutura e habitação de interesse social.
Rerisson Máximo, coordenador da Comissão Especial de Política Urbana e Ambiental do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/CE), ressaltou a importância de rigor técnico na aplicação dessas normas e defendeu a criação de um Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano para discutir as legislações associadas ao novo Plano Diretor.
Jefferson John, presidente do Instituto de Arquitetos Brasil-Departamento do Ceará (IAB-CE), enfatizou a necessidade de um equilíbrio entre o crescimento imobiliário e a vocação turística da cidade, sugerindo a promoção de construções de uso misto, que integrem habitação, comércio e serviços.
José Carlos Gama, do Sinduscon/CE, concluiu que é essencial que os interesses do mercado imobiliário estejam alinhados com as necessidades da cidade, promovendo um diálogo construtivo entre as partes envolvidas. Com essas novas diretrizes, Fortaleza se prepara para um futuro de desenvolvimento urbano mais sustentável e equilibrado.