Um projeto inovador desenvolvido por alunas do curso técnico em Análises Clínicas do Centro Territorial de Educação Profissional (Cetep) Araci, localizado a cerca de 107 km de Feira de Santana, está ganhando destaque nacional ao criar luvas biodegradáveis. Essas luvas, feitas a partir de fibras de sisal, uma planta emblemática da região, surgem como uma solução para problemas ambientais, de saúde e para a valorização dos recursos locais.
Sob a orientação da professora Pachiele Cabral, o projeto teve início em abril de 2022, com o objetivo de combater a poluição causada pelo descarte de resíduos plásticos, especialmente os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) utilizados em larga escala durante a pandemia de Covid-19. As luvas de látex, comumente usadas em ambientes laboratoriais e hospitalares, têm sido associadas a reações alérgicas.
Além de sua natureza sustentável, o projeto explora as propriedades antimicrobianas e terapêuticas do sisal, que é conhecido como “ouro verde” do semiárido. A professora destaca que, entre os profissionais da saúde, seis em cada dez podem desenvolver alergias devido ao uso de látex, o que torna as luvas biodegradáveis uma alternativa mais segura e benéfica.
As estudantes envolvidas no projeto, Sarah Moura Cruz, de 18 anos, e Isabel Silva Oliveira, de 19, relataram que a ideia surgiu após o pico da pandemia, quando perceberam a quantidade excessiva de resíduos descartados, incluindo no próprio laboratório do curso. Com a abundância de sisal na região, elas decidiram explorar seu potencial como uma alternativa ecológica.
Sarah enfatiza que, além do benefício ambiental, há uma questão econômica importante. “Em Araci, produzimos muito sisal, mas ele é frequentemente transportado para outras localidades. Nosso projeto busca dar visibilidade ao trabalhador do sisal, que muitas vezes enfrenta condições de trabalho análogas à escravidão. Ressignificar a história do sisal na minha família, já que minha mãe trabalhou com isso quando era criança, é um grande privilégio”, explica.
Atualmente, as luvas estão em fase de desenvolvimento, com o suporte técnico da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que tem possibilitado testes mais avançados e validações científicas. O pedido de patente do projeto já foi protocolado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), e por se tratar de uma patente verde, o processo está sendo tratado com prioridade, o que pode acelerar a análise em comparação aos pedidos convencionais. A professora acredita que este é o primeiro pedido de patente originado na educação básica em parceria com uma universidade pública, representando um avanço significativo para a ciência e inovação nas escolas públicas brasileiras.
O projeto já conquistou prêmios importantes, incluindo três distinções na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), realizada na Universidade de São Paulo (USP), e venceu a etapa nacional do Prêmio Solve for Tomorrow, da Samsung, recebendo o primeiro lugar pelo júri popular entre mais de 2 mil projetos de todo o Brasil.
Isabel expressa sua gratificação ao ver que o projeto superou as expectativas e recebeu reconhecimento. “Esse reconhecimento nos motiva a continuar inovando e buscando novas soluções, além de abrir portas para futuras oportunidades acadêmicas e profissionais”, afirma.
O Cetep Araci enfrenta desafios para viabilizar a comercialização das luvas. A proposta é adotar um modelo híbrido, onde parte da produção será vendida para garantir a sustentabilidade do projeto, enquanto outra parte será destinada a doações para escolas técnicas, unidades de saúde e hospitais públicos, especialmente em comunidades vulneráveis. A professora ressalta que o objetivo é mostrar que a inovação gerada em uma escola pública do sertão baiano pode transformar realidades, gerar renda e cuidar do meio ambiente e da saúde das pessoas.
Atualmente, a equipe aguarda a aceitação do pedido de patente pelo INPI, o que permitirá buscar investimentos e viabilizar a produção em escala industrial.