Estudo da UEMA revela camarão de alto valor comercial que pode alavancar a aquicultura no Nordeste
20 de julho de 2025 / 18:04
Foto: Divulgação

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) destacou o elevado potencial comercial e genético do camarão-tigre-preto (Penaeus monodon), uma espécie nativa das águas brasileiras, especialmente comum no litoral do Maranhão. A pesquisa, que foi publicada na revista internacional Aquaculture Research, representa a primeira análise aprofundada sobre o mapeamento genético e sanitário das populações nativas dessa espécie no Brasil.

O camarão-tigre-preto é conhecido por seu tamanho avantajado, cores vibrantes e sabor marcante. Ele habita grandes profundidades e é encontrado ao longo de todo o litoral brasileiro, com maior concentração nos estados do Ceará, Maranhão e Pará. Na década de 1980, essa espécie era a mais cultivada em cativeiro no Brasil e, atualmente, ocupa a segunda posição nesse segmento. No Maranhão, o crustáceo ainda é capturado acidentalmente, misturando-se a outras espécies nas redes de pesca.

A pesquisa, iniciada em 2015 e liderada pelo professor Thales Passos de Andrade, do curso de Engenharia de Pesca da UEMA e da Rede Bionorte, contou com o apoio do Laboratório de Diagnóstico de Enfermidades de Crustáceos (Laqua-UEMA) e da doutoranda Amanda Gomes, além de colaborações internacionais com instituições como a CSIRO e a Genics, da Austrália.

Os resultados obtidos revelaram que o camarão-tigre-preto possui características genéticas únicas e uma resistência significativa a doenças. Foram realizados mais de 1.100 exames, e nenhum deles identificou a presença dos 19 patógenos mais preocupantes para a aquicultura mundial, incluindo vírus e fungos. A espécie também apresentou um baixo índice de endogamia, o que aumenta seu potencial para melhoramento genético e cultivo sustentável. O camarão-tigre-preto foi classificado como um dos estoques mais promissores do mundo para comercialização, devido ao seu valor nutricional e comercial.

“A espécie P. monodon possui uma característica natural de resistência a algumas enfermidades presentes no Brasil, como o vírus do IMNV, e também a um fungo que não está no país, o EHP. Juntamente a isso, temos o valor comercial e nutricional da espécie”, explica o professor Thales.

Os pesquisadores destacam que o clima e o relevo do Maranhão, que são semelhantes aos de grandes produtores de camarão, como o Vietnã, oferecem condições ideais para o desenvolvimento dessa espécie.

Além disso, a doutoranda Amanda Gomes ressalta que o Laboratório de Diagnóstico de Enfermidades de Crustáceos, que realiza as análises e está localizado na UEMA, é o único no Brasil acreditado com a ISO 17025 para doenças relacionadas ao camarão. “É importante notar que esse laboratório está dentro da Universidade Estadual do Maranhão, em um estado cuja economia é impactada por esses fatores. As parcerias internacionais estão contribuindo significativamente para essa pesquisa, que tem ganhado grande repercussão no Brasil”, afirma Amanda.

As descobertas da pesquisa abrem novas possibilidades para a aquicultura no Brasil e no Maranhão, promovendo a valorização da biodiversidade e reduzindo a dependência de estoques importados. Além disso, a captura adequada da espécie pode gerar novas oportunidades de renda para os pescadores maranhenses.