O Porto do Pecém, localizado no Ceará, já está sentindo os efeitos da nova tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. Embora a medida comece a valer apenas em 1º de agosto, importadores norte-americanos estão suspendendo negociações devido à incerteza gerada pela nova taxa.
Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, uma das quatro empresas que operam com exportações no Porto do Pecém, informou que cerca de 20 contêineres, que incluem produtos como mel, pedra bruta e cera, estão retidos em diferentes etapas do processo logístico. Esses contêineres estão parados tanto no pátio do exportador quanto durante o transporte para o porto ou já dentro do terminal.
A JM atua como intermediária entre empresas exportadoras e os processos logísticos e burocráticos, oferecendo serviços que vão desde a logística aduaneira até o acompanhamento da documentação necessária junto a órgãos como Anvisa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Receita Federal.
A paralisação das exportações já está causando prejuízos significativos aos exportadores. Um exemplo é um cliente do setor de mel que, anualmente, envia cerca de 100 contêineres para os Estados Unidos, gerando um faturamento de aproximadamente 12 milhões de dólares. A interrupção desses embarques compromete gravemente a receita da empresa.
“Os processos paralisados param de faturar. Quando uma empresa para de faturar, você sabe a consequência. A consequência é o desemprego”, destacou Fernandes. Ele também ressaltou que produtos como mel, apesar de não liderarem as estatísticas de exportação, têm um papel importante na economia local, especialmente por envolverem pequenos produtores e cooperativas. A suspensão das exportações impacta diretamente o faturamento das empresas e aumenta o risco de desemprego.
Fernandes comparou a gravidade da situação a uma “bomba atômica na economia”, afirmando que as perspectivas de uma solução rápida são remotas, já que as negociações atuais não mostram avanços. A previsão de embarque dos contêineres retidos é entre a segunda quinzena de julho e 24 de agosto. “A preocupação agora é garantir que essas cargas sejam despachadas antes da vigência da nova tarifa, a fim de minimizar os impactos econômicos nas cadeias exportadoras locais”, disse a JM em nota.
O Porto do Pecém, por sua vez, afirmou que continua operando normalmente e que até o momento não houve solicitação formal de alteração no cronograma da carga mencionada. A empresa apenas é informada oficialmente quando há uma decisão de manter uma carga em pátio por tempo superior ao previsto, o que, até o momento, não ocorreu.
O setor pesqueiro do Ceará também está preocupado com o impacto da nova tarifa de 50%. O estado é responsável por mais de 25% das exportações brasileiras de pescados, conforme dados do Comexstat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, referentes a 2022. O secretário executivo do Agronegócio, Silvio Carlos Ribeiro, já havia destacado que cerca de 57 mil empregos são gerados pelo setor.
Paulo Gonçalves, representante do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Estado do Ceará (Sindifrio), alertou que o mercado norte-americano é um dos principais destinos para o pescado cearense e que a nova tarifa pode desestruturar toda a cadeia produtiva do setor. “A princípio, não vamos mais ter como vender os peixes costeiros e a lagosta para o mercado americano, porque 50% é uma taxa extremamente elevada”, afirmou.
O impacto será sentido principalmente na geração de empregos, afetando diretamente pescadores e armadores. O Sindifrio espera que o governo federal consiga abrir negociações com os Estados Unidos para reverter ou, ao menos, reduzir a taxa.